ORIGEM, CRONOLOGIA E APLICAĂĂES

Motor Fire, começando justamente pelo nome, muitas pessoas costumam relacionar sua origem Ă palavra âfogoâ, que seria uma tradução literal para o inglĂȘs. No entanto, para esses motores, a palavra âFireâ Ă© uma sigla para Fully Integrated Robotised Engine, que em tradução livre para o portuguĂȘs, quer dizer âMotor Completamente Montado por RobĂŽsâ.
Originado na Europa, em 1985, e vindo para o Brasil 15 anos depois, em 2000, no Fiat Palio, o motor Fire foi o primeiro da marca a contar com sua montagem feita por robĂŽs, alĂ©m de maior parte do projeto ter sido desenvolvido em ambiente digital, usando atĂ© mesmo sistema de elementos finitos para simular os esforços dos materiais que seriam utilizados, bem como testar inĂșmeras variaçÔes de formas e dimensĂ”es.
Isso permitiu um volume maior de produção, com uma melhor precisĂŁo tĂ©cnica, minimizando erros e resultando em maior eficiĂȘncia final, comparado com modelos mais antigos, como os Fiasa.
Usando essas e vĂĄrias outras tecnologias de ponta da Ă©poca, foi possĂvel obter um bloco com espessura de parede de apenas 4 mm, o que resultou em um peso total da peça de 18 kg, com um peso total do motor de 69 kg, considerado um dos mais leves do mercado.

No seu auge de produção, a Fiat chegou a produzir 3 mil motores desses por dia, e para garantir o padrão de qualidade, todos os parùmetros de produção (dimensÔes, alinhamentos, planicidade, etc.) eram verificados à laser, o que também era inovador para a época.
no Brasil, incialmente, podiam vir movidos apenas à gasolina, nas variaçÔes 1.0 8v ou 1.3 16v, sendo que em 2002 vieram os 1.0 16v e em 2003, os 1.3 8v, também ainda abastecidos com o derivado do petróleo.
Em 2004, os 1.3 receberam a tecnologia flex, podendo serem movidos por gasolina ou etanol, em qualquer proporção de mistura entre si. Os 1.0 sĂł viraram bicombustĂveis um ano depois. Ainda nessa Ă©poca tambĂ©m foram descontinuados os motores 1.0 e 1.3 de 16v.

JĂĄ em 2005, os motores 1.3 8v aumentaram sua cilindrada e evoluĂram para os 1.4 8v, enquanto que em 2010, tanto 1.0 quanto 1.4 receberam importantes atualizaçÔes passando a serem chamados de Fire EVO, com melhor acerto eletrĂŽnico de gerenciamento do motor, novos pistĂ”es, eixo de comando, bicos e coletor de admissĂŁo. AlĂ©m disso, para os 1.4, foi adotado variador de fase para as vĂĄlvulas de admissĂŁo.
Em 2016, os motores 1.0 começaram a ser substituĂdos pelos entĂŁo mais modernos motores Firefly (apesar do nome parecido, sĂŁo uma famĂlia totalmente Ă parte de motores, e que merecem um artigo dedicado futuramente), porĂ©m os 1.4 ainda resistem atĂ© os dias atuais, equipando Fiat Strada (atĂ© final de 2023) e Fiorino.
AlĂ©m desses carros, durante toda sua estadia no Brasil, vocĂȘ pode encontrar os motores Fire equipando veĂculos como Palio e Palio Weekend, Siena e Grand Siena, DoblĂŽ, Uno, e Punto.
Existiu tambĂ©m uma variação interessante desse motor, que Ă© o 1.4 16v turbo, que equipou a linha T-Jet de veĂculos como Bravo, Punto e Linea, que tambĂ©m merece um artigo Ă parte sobre seu projeto, por se tratar de um motor bem diferente em termos tĂ©cnicos, apesar de ter origem na mesma famĂlia Fire.
PROJETO
BLOCO

O bloco dos motores Fire sĂŁo divididos em duas partes: superior e inferior. A primeira, Ă© composta de alumĂnio com mancais sinterizados, que permite uma estrutura mais rĂgida diminuindo a vibração do motor. JĂĄ a segunda parte, Ă© feito em alumĂnio fundido, sendo o apoio para as bronzinas de aço sinterizado, que possui maior resistĂȘncia mecĂąnica e tĂ©rmica.
Os cilindros sĂŁo usinados diretamente no bloco e permitem retĂficas de 0,20 e 0,40 mm, enquanto que os pistĂ”es, sĂŁo fabricados em trĂȘs classes dimensionais A, B e C, sendo que as variaçÔes de uma classe para a outra Ă© de 0,010 mm.
Um detalhe que vale ser mencionado Ă© que os pistĂ”es dos motores flex 1.3 8v contĂȘm uma camada de grafite na regiĂŁo da saia que contribui para prolongar a vida Ăștil da peça.
Em 2003, ao se tornar flex, o topo do pistĂŁo dos motores 1.0 8v foram modificados a fim de aumentar a taxa de compressĂŁo de 9,5:1 para 11:1, o que resultou em um melhor rendimento, que atendesse bem aos dois combustĂveis, em qualquer proporção de mistura.
Com isso, a potĂȘncia foi de 55 para 65 cv (gasolina) e o torque de 8,5 para 9,1 kgfm (gasolina). No etanol, a potĂȘncia era de 1 cv a mais e o torque de 0,1 kgfm extra.

JĂĄ em 2010, quando jĂĄ haviam os motores 1.4, ao passarem pela atualização EVO, os pistĂ”es ficaram um pouco menores, em altura, o que reduziu o seu peso ao mesmo tempo em que ganhou maior resistĂȘncia estrutural e melhor distribuição de calor.
Na primeira geração desse motor, as bielas eram fabricadas em aço SAE-1008 liga ML- 215 com tratamento superficial em jateamento de esferas. Eram fundidas em uma Ășnica peça e posteriormente fraturadas (processo de "craqueamento"), permitindo montagem mais precisa. JĂĄ nos 1.4 EVO mais modernos, passaram a ser forjadas, para uma maior resistĂȘncia mecĂąnica.

Os parafusos das bielas recebem torque angular e é recomendåvel sua substituição toda vez que efetuar a sua desmontagem.
A ĂĄrvore de manivelas Ă© fabricada em ferro fundido nodular (tipo b), temperada por indução, com 4 contrapesos e 5 mancais fixos, e permite retĂfica de 0,25 ou 0,50 mm.
O bloco do motor Ă© equipado com pulverizadores de Ăłleo, que tĂȘm como finalidade promover o arrefecimento da cabeça do pistĂŁo e permitir a lubrificação do seu pino.
CABECOTE

Nos cabeçotes de duplo comando (16 vĂĄlvulas), estes sĂŁo montados mais prĂłximos entre si, o que propicia um menor Ăąngulo entre vĂĄlvulas. Com o comando de descarga acionado diretamente por uma polia de força do motor, consegue-se uma maior aproximação entre os dois eixos e uma cĂąmara de combustĂŁo mais compacta, o que traz como benefĂcio o aumento na velocidade de queima, maior rendimento termodinĂąmico e consequente melhoria nas emissĂ”es.
Em todas variaçÔes desse motor, o cabeçote Ă© do tipo âfluxo cruzadoâ, ou seja, dutos de admissĂŁo e escape se encontram em lados opostos. Com isto, temos uma melhora no desenho das galerias de arrefecimento, resultando em um melhor rendimento do motor e partida a frio mais eficiente.

Os mais modernos 1.4 EVO ganharam um cabeçote com dutos de admissĂŁo redesenhados para favorecer a alta turbulĂȘncia da mistura ar/combustĂvel para os cilindros, garantindo uma melhor atomização antes da queima.
Os tuchos dos cabeçotes 8 vålvulas são do tipo mecùnicos, ou seja, exigem ajuste periódico para que o motor continue trabalhando em seu ponto ideal de funcionamento. Jå os cabeçotes 16 vålvulas usam tuchos hidråulicos, que dispensam essa manutenção.
Nos 1.3 8v, ao virarem flex em meados de 2003, as guias de vålvulas receberam tratamento contra corrosão e desgaste devido ao menor poder de lubrificação do etanol.
JĂĄ nos 1.4 EVO, o comando de vĂĄlvulas Ășnico no cabeçote, passou a contar com variador de fase para a admissĂŁo, visando a redução do consumo de combustĂvel e emissĂŁo de poluentes.
Esse sistema de variação contĂnua atua com função de atraso do tempo, gerando um efeito semelhante Ă uma vĂĄlvula EGR, que produz uma combustĂŁo mais fria em alguns regimes de rotação, ao reaproveitar parcialmente os gases de escape para a admissĂŁo.
Sendo assim, esse sistema garante uma economia de combustĂvel de atĂ© 5% comparado Ă sua versĂŁo anterior, otimizando a produção de torque em baixos giros, alĂ©m de permitir um ganho de potĂȘncia em altas rotaçÔes.
A tampa de vålvulas desses motores possui o suporte para a fixação do atuador hidråulico responsåvel por acionar a polia do variador de fase, além do filtro antichama, também acoplado à essa tampa.
Os 1.0 EVO não possuem a tecnologia de variador de fase, mas ganharam muitas melhorias, principalmente na redução de atrito dos componentes móveis.
ADMISSĂO

O coletor Ă© fabricado em plĂĄstico, que permite obter menor rugosidade nas paredes internas, o que proporciona melhor fluidez no ar de admissĂŁo para enchimento do cilindro e uma menor temperatura no coletor.
Quando se tornou flex, os 1.0 8v passaram a contar com dutos de admissĂŁo mais curtos e ĂĄrea de secção transversal maiores, visando o ganho de potĂȘncia.
Os motores da linha EVO tiveram todo um trabalho de redesenho do sistema de admissĂŁo, que Ă© visivelmente diferente da versĂŁo anterior. E nĂŁo Ă© sĂł por função estĂ©tica, mas sim para se criar um caminho em que se tenha uma redução do ruĂdo gerado pela passagem de ar, lançando mĂŁo tambĂ©m de alguns ressonadores internos para se alcançar tal resultado.
Quanto ao sistema de aceleração, os primeiros motores vinham equipados com acionamento da borboleta via cabo, com exceção dos 16v, que jĂĄ dispunham de gerenciamento eletrĂŽnico, que sĂł se estendeu para toda a linha em meados de 2007, o que resultou em um melhor controle de abertura da borboleta para partida Ă frio, filtragem de acionamentos involuntĂĄrios, o que trouxe junto uma economia de combustĂvel.
ESCAPE

O sistema conta com dois silenciadores para redução de ruĂdo, ao mesmo tempo em que nos motores com tecnologia flex, possuem uma maior resistĂȘncia Ă corrosĂŁo.
Nos motores EVO, o catalisador Ă© de menor resistĂȘncia ao fluxo e fica bem prĂłximo ao motor, jĂĄ na saĂda do coletor de escape, o que permite atingir sua temperatura de trabalho mais rapidamente.
COMBUSTĂO

Os motores 1.4 EVO passaram a contar com bobinas de ignição individuais para cada cilindro, melhorando o processo de queima do combustĂvel, diferente dos anteriores que usavam bobina de ignição estĂĄtica.
O sistema de gerenciamento Ă© da Magnetti Marelli, de ignição eletrĂŽnica digital e injeção de combustĂvel sequencial, ou seja, apenas um bico por vez, injeta combustĂvel, o que reduz bastante o consumo ao mesmo tempo em que se mantĂ©m o mesmo rendimento (exceto em partidas Ă frio, em que o sistema injeta combustĂvel nos quatro bicos ao mesmo tempo).
A pressão de trabalho dos bicos injetores fica em torno de 4,2 bar, e este é um sistema bem complexo e moderno para a época, que tem as funçÔes de:
Auto adaptação do sistema;
AutodiagnĂłstico;
Reconhecimento da chave Fiat CODE (imobilizador);
Controle do variador de fase;
Controle da injeção de combustĂvel em todas as fases de funcionamento;
Corte de combustĂvel a 0% de carga e em movimento (cut-off);
Recuperação dos vapores de combustĂvel;
Limitação de rotação måxima;
Controle de componentes e sistemas como bomba de combustĂvel, compressor do ar condicionado e eletroventilador do radiador;
Reconhecimento da posição dos cilindros;
Controle do avanço de ignição.
REFRIGERAĂĂO

O sistema de arrefecimento Ă© do tipo circulação forçada por uma bomba radial centrĂfuga com rotor semiaberto, acionada pela correia dentada. Essa bomba tem paletas maiores nos motores 1.4 EVO, comparado Ă s outras variaçÔes desse motor.
A capacidade total varia de 5,1 a 5,4 litros, com uma pressĂŁo de trabalho de 1,4 bar, e o lĂquido recomendado pelo fabricante, deve atender Ă norma FIAT 55523/1, na proporção de 30%.
A temperatura ideal de trabalho desses motores varia de 87°C (abertura da vĂĄlvula termostĂĄtica), atĂ© 100°C, em veĂculos com ar condicionado e segunda velocidade do eletroventilador acionada.
LUBRIFICAĂĂO

O sistema de lubrificação é do tipo forçada, composto por uma bomba de engrenagens e um filtro de óleo (200ml de capacidade aproximada) do tipo fluxo completo, com vålvulas de retenção e segurança.
A capacidade de Ăłleo total, para os motores 8 vĂĄlvulas, Ă© de 2,7 litros, considerando o filtro, enquanto para os motores 16 vĂĄlvulas, Ă© de 3 litros.
A pressĂŁo de trabalho Ă 100°C, para marcha lenta ou atĂ© 1000 RPM, Ă© de 0,7 bar, mĂnimos, enquanto a 4000 RPM, deve ser superior a 4 bar.
ESPECIFICAĂĂES DE ĂLEO
Lembrando que, para fazer a troca de Ăłleo do seu carro, vocĂȘ deve seguir as recomendaçÔes do manual de manutenção. AlĂ©m disso, as viscosidades e classificaçÔes API podem variar dependendo do ano de fabricação do motor ou cilindrada:
2005> 10w40 ou 15w40 API SL
2009> 5w30 ou 15w40 API SL
2012> 5w30 API SL
2013> 5w30 ou 15w40 API SM
NĂMEROS DE DESEMPENHO
1.0 8v â 61cv gasolina (2000>2001) â 55cv (2002>2004) â 65cv (2004>2005) â 65/66cv flex (2005>2010) â 73/75cv EVO (2010>2016)
1.0 16v â 70cv (2002>2003)
1.3 8v â 67cv gasolina (2003>2004) â 70/71cv flex (2004>2005)
1.3 16v â 80cv gasolina (2000>2003)
1.4 8v â 80/81cv flex (2005>2010) â 85/86cv (2010>2011 Palio e Siena G4) â 85/88cv EVO (2011>2023)
PONTOS DE ATENĂĂO
Correia dentada e de acessĂłrios, exigem trocas constantes. Apesar de alguns manuais falarem em trocas a cada 60 mil km ou 3 anos, pode ser necessĂĄrio substituir bem antes, por exemplo, se morar em ĂĄrea de mineradora, deve-se reduzir prazo pela metade.
Relatos de danos frequentes em junta de cabeçote, o que geralmente causa uma redução constante no nĂvel do lĂquido de arrefecimento, seguido de fumaça branca no escapamento do veĂculo.
As versĂ”es desse motor equipados com tuchos mecĂąnicos, exigem ajuste de folga de vĂĄlvulas a cada 30 mil km, conforme manual do proprietĂĄrio, sob pena deste apresentar uma perda de potĂȘncia e aumento no consumo de combustĂvel.
Relatos frequentes de perda de eficiĂȘncia no catalisador, mesmo com baixa quilometragem, em torno dos 70 mil km, o que pode causar forte odor nos gases do escapamento ou ainda aumento do consumo de combustĂvel, seguido pela luz de diagnĂłstico acesa no quadro de instrumentos.
No entanto, nĂŁo deixa de ser um excelente motor, que atravessou geraçÔes e tem se mostrado muito eficiente, de Ăłtima resistĂȘncia de durabilidade mecĂąnica, e com um custo baixo de manutenção, tanto preventiva quanto corretiva. Com exceção dos 16 vĂĄlvulas, que sĂŁo mais complexos, os motores Fire sempre serĂŁo referĂȘncia quando o assunto Ă© confiabilidade mecĂąnica.